
Assiduidade, foco, resiliência e disciplina são as qualidades que costumam determinar aqueles que trilharão o caminho do sucesso. No esporte elas são igualmente importantes, mas uma se destaca das demais: coragem.
Coragem de assumir os riscos de se dedicar a uma atividade que não se molda somente por seu esforço, mas por fatores externos e variáveis que estão fora do seu controle. Coragem de assumir a responsabilidade de fazer valer anos de treinamento em um único momento decisivo, frente a tamanhas incertezas e expectativas, suas e de outros.
EDUARDA
.jpeg)
Um cenário que pode desmotivar muitos, mas que foi apenas um detalhe para Eduarda Souza Santos, atleta natural de Praia Grande-SP que tem há sete anos Londrina como sua casa e o esporte como parte de si.
Filha única de um casal que sempre trouxe a prática do esporte para sua rotina, Eduarda não conseguiu escapar de um destino trilhado aos moldes do atletismo. Cresceu acompanhando os passos rápidos dos pais nas pistas de rua, experienciando do triathlon ao aquathlon, até chegar no local que seria seu segundo lar e o estopim para as maiores mudanças de sua vida.
A pista de atletismo onde seu pai treinava foi onde ela deu seus primeiros passos rumo a um futuro ligado à corrida. Com apenas 13 anos, fazia um treinamento “café com leite” até ter idade para começar, de fato, a ser treinada para alcançar grandes velocidades.
Mas como uma jovem de Praia Grande, apaixonada pelo mar e por sua família, chegou até Londrina, uma cidade até então desconhecida a 600 km de distância de onde sempre viveu?

É nesse momento que o Projeto Londrina Atletismo entra nessa história.
Criado no ano 2000, o projeto nasceu da vontade de promover o esporte em Londrina e hoje oferece apoio para diversos atletas das mais variadas cidades, que se reúnem diariamente na pista de atletismo do Centro de Educação Física da UEL para aprimorar suas técnicas e se preparar para os próximos campeonatos.
Mais do que oferecer treinamento especializado, o projeto se responsabiliza pela moradia e estudos dos atletas, além do amparo emocional e das conversas que a equipe mantém com esses jovens no intuito de eles se sentirem felizes e confiantes com sua nova casa, rotina e, claro, para que se mantenham sempre firmes na decisão de seguir lutando por seus sonhos.
Com 15 anos, Eduarda conheceu aqueles que lhe dariam uma oportunidade única: dedicar sua vida ao esporte, com todo o suporte educacional, financeiro e emocional necessários. Com uma bolsa de estudos em um grande colégio da cidade, moradia e uma rotina de treinamentos rígida, ela deixou Praia Grande para trás a caminho de um novo futuro em terras londrinenses.

Acervo pessoal

Acervo pessoal

Acervo pessoal

Acervo pessoal
Nessa trajetória, foram vários os campeonatos realizados, a nível local, regional e nacional. A decisão de qual atleta tem a oportunidade de participar das competições diz respeito ao comprometimento deles com as rotinas de treino e preparação.
Ter a maturidade de identificar o que vale a pena ser feito ou não, de onde gastar sua energia ou mesmo de saber focar seus pensamentos naquilo que realmente vai te levar mais longe é um processo difícil. Eduarda afirma que sempre foi muito centrada e responsável nesse sentido, mas que a prática do esporte e as cobranças por parte do Projeto também fizeram a diferença no seu processo de crescimento.

“Você tem que abdicar de muita coisa também, você tem que saber colocar na balança o que vale e o que não vale, o que vai te levar para cima ou não. E acho que, com o decorrer desse tempo, eu fui aprendendo muito mais sobre isso.

Foi esse foco que levou a atleta para aquela que considera uma de suas maiores conquistas, o pódio no Campeonato Brasileiro de Atletismo, em 2019.
Para conseguir grandes resultados, o apoio da equipe que se tornou sua segunda família foi de extrema importância. Gilberto Miranda, técnico de Eduarda e gestor do projeto, assumiu papel de pai e foi apoio para momentos de dúvidas e incertezas, estando presente não apenas nos compromissos esportivos, mas escolares e pessoais dela.
Por meio desse suporte, ela conseguiu transformar Londrina em seu lar. Apesar de nunca ter estado nos seus planos, a cidade adquiriu forte importância em sua trajetória e abriu portas para grandes oportunidades.
Trabalhar exclusivamente com esporte não está nos seus planos para o futuro, uma vez que o desgaste emocional causado por ele tem se mostrado cada vez mais presente. Porém, mesmo com planos diferentes dos que tinha aos 14 anos, Eduarda valoriza cada aprendizado que o esporte lhe trouxe e segue trazendo. Dentre esses aprendizados, ela destaca a consciência de que tudo na vida é mutável e incerto, e que saber lidar com essas mudanças é o que, no fim, faz toda a diferença.
“Acho que tudo na vida são momentos, você tá ali embaixo mas do nada você pode estar subindo,
assim como quem tá lá em cima consegue descer também, às vezes. Então, eu acho que a vida é muito inconstante,
só que você tem que se manter de pé ali, independente de tudo.”

Gostou desta história?
Então compartilhe suas opiniões com a gente!