

Seguindo os passos de sua mãe, ela se tornou referência em sua profissão e é a primeira mulher negra a assumir o cargo de chefe do Departamento de Controle de Infecções da Unimed.
LUCIANE

Luciane Ventura Salviano Dias é enfermeira, mãe, esposa, mas acima de tudo, uma mulher que aprendeu a não se deixar definir pelo que os outros pensavam de si e que conquistou seu espaço em meio a lutas contra o racismo e a discriminação.
Filha de Joel e Nazilda, cresceu acompanhando a dedicação de seus pais no trabalho em busca de proporcionar uma vida digna para ela e seus três irmãos. Sua mãe iniciou a graduação em enfermagem na UEL quando já tinha seus filhos, se desdobrando para conciliar os estudos em tempo integral com seus dois empregos.
Seu pai assumiu um papel fundamental no cuidado da família quando a mãe não conseguia estar presente, suprindo os cuidados e necessidades dos filhos enquanto conciliava seu tempo entre casa e trabalho.
Neste ambiente de força e dedicação, Luciane cresceu e entendeu que o esforço e o estudo possibilitam grandes conquistas e mudanças de realidade. Mas, quando começou a procurar seu primeiro emprego na adolescência, viu que sua capacidade e inteligência não eram os únicos requisitos avaliados, mas também a cor de sua pele.
“Por mais que você tenha formação e você tenha conhecimento, as pessoas não te dão oportunidades. Eles fecham a porta pra você.
Depois de formada, Luciane demorou dois anos para conseguir um emprego fixo. Na época, os currículos precisavam ter foto do profissional anexada. Ao perceber que, não importando quantos currículos entregava, ela nunca era chamada para as entrevistas, resolveu fazer uma experiência.
Trocou sua foto pela imagem de uma mulher branca e, logo depois, foi chamada por uma empresa para continuar o processo seletivo. Assim, provou que não bastava alcançar a excelência em sua profissão, ela ainda precisaria lutar contra o racismo estrutural velado que lhe era imposto. Uma competição injusta que permeia o dia a dia de milhares de negros por todos o país, dificultando seu crescimento social e profissional.
Para Luciane, a escolha pela enfermagem surgiu do entendimento de que essa seria uma opção que lhe possibilitaria conquistar seus sonhos de forma menos sofrida. Tendo como base a experiência de sua mãe e outros familiares, ela viu que neste trabalho ela seria mais aceita e valorizada por sua capacidade e especialidade.
Decidida em suas escolhas, assim que iniciou sua graduação esteve sempre focada em sua conclusão e, ao longo do processo, foi se encantando com a profissão e entendendo que era ali que realmente deveria estar. Da mesma forma que cuidava de seus irmãos quando os pais não estavam presentes na infância, ela passou a cuidar de seus pacientes, assumindo muitas vezes um papel que se sobressai acima de qualquer outro: o de alicerce e humanidade para aqueles que mais precisam.
Atualmente como chefe do Departamento de Controle de Infecções da Unimed, Luciane é a responsável por treinar as equipes e garantir que todos os protocolos de controle de infecções sejam seguidos em prol da saúde dos pacientes.
Em uma profissão intensa e ainda desvalorizada, Luciane passou por diversas experiências que lhe deram novas perspectivas sobre sua própria vida e percebeu que, muitas vezes, a dor do outro pode ser tão grande quanto a sua.




Foi a partir dessas experiências e percepções que ela aprendeu a lidar melhor com a realidade de discriminação na qual foi exposta desde muito cedo, vendo que esse cenário não pode a desestabilizar e a impedir de continuar fazendo o bem e impactando positivamente a vida daqueles com quem compartilha seus dias.
Mãe de Lara e Davi, de 12 e 9 anos, Luciane cria seus filhos junto com seu marido Alberto Henrique na cidade onde construiu sua vida e sua família. Apesar do carinho pela cidade que é cenário de sua história, ela transparece a tristeza de já ter vivido nela o racismo com mais frequência do que gostaria.
De não se sentir bem-vinda em alguns locais até os olhares silenciosos direcionados a ela, Luciane pontua que ainda há muito o que melhorar em Londrina na questão da normalização dos atos racistas. Na criação de seus filhos, cuida para que eles não passem por situações das quais presenciou e para que eles se sintam livres para encontrar seu lugar no mundo, onde se sintam seguros e confortáveis em ser quem são.

“Eu sou uma mãe que eu crio eles para o mundo, que se sintam a vontade de ir para outro lugar. E se um dia eu ver que eles estão em perigo, eu vou também com eles, não tem problema. Porque eu acho que quando a gente tem filhos, a gente vive também por eles.

Com base em tudo o que já viveu e conquistou, Luciane diz que sua maior conquista é se reconhecer mais hoje em dia, saber quem ela é e qual é sua essência. Por muito tempo, deixou que opiniões externas movessem suas escolhas e agora percebe o quão importante é saber quem você é e qual é seu papel em sua vida e na vida dos demais.
Ter esse autoconhecimento economiza muitas decepções e sofrimentos que podem ser evitados. Mas, para aqueles que ainda não desenvolveram essa habilidade, ela afirma que é algo que se aprende com o tempo a partir das experiências que a vida proporciona.
Afinal, para evoluir é necessário passar por momentos bons e ruins, entendendo os ensinamentos por trás de cada um deles sem nunca desistir de seus objetivos e sonhos.

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